Capítulo 100
ALICE
Liguei para a Melany no dia seguinte com o objetivo de saber se poderia passar lá por casa, preciso de saber a sua opinião em relação a tudo isto.
Ontem ao jantar todos concordaram com a minha partida, contudo, sinto que é necessário uma opinião de alguém mais velho.
Assim que a tela do telemóvel marcou as vinte horas toquei à campainha. Passados alguns segundos a porta abre-se.
- Boa noite Alice entra. - convidou o Jorge.
- Boa noite, a Melany convidou-me para jantar...
- Sim sim, ela disse-me. Também me disse que precisavas de falar connosco.
- Realmente preciso. - confessei.
Adentrei a casa em direção à cozinha onde a minha futura sogra estava a preparar o jantar. Um cheiro delicioso a carne assada pairava no ar.
- Olá querida, então?
- Olá, boa noite!
- Uhmmm, que carinha é essa? - perguntou-me ela no fim de me cumprimentar com dois beijos no rosto.
- Cara de quem está com dificuldades em saber o que fazer no futuro.
- Como assim!? O teu pai deixou de vos mandar dinheiro!?
- Não, nada disso. O problema é...
- O Henrique. - adivinhou.
Acenei positivamente com a cabeça sem abrir a boca.
- Mas agora que acabaste o décimo segundo ano já podes ir ter com ele. - respondeu o Jorge.
- Era mesmo sobre isso que gostava de falar com vocês. Gostava de saber qual a vossa opinião acerca de uma opção que a Anica me colocou ontem.
- Então vamo-nos sentar à mesa e discutimos isso enquanto jantamos que me dizem!? - interrogou Melany com o tabuleiro quente na mão.
- Concordo plenamente! Pelo cheiro deve estar maravilhoso! - exclamou Jorge.
Já sentados à mesa e com os pratos cheios de comida Melany iniciou:
- Então, qual foi a opção que a Anica te deu?
- Ontem à noite, assim que ela entrou no meu quarto e viu as telas pintadas, surgiu-lhe a ideia de eu me inscrever na Camberwell College of Arts, uma universidade de artes em Londres. No momento tudo me parecia um sonho, e eu fiquei super feliz por ter uma hipótese de poder viver em Inglaterra com o Henrique, mas não sei, tenho medo. Por isso é que vim falar com vocês. Apesar de todos lá em casa terem concordado com a minha partida, eu gostava de saber o quê que vocês acham de tudo isto.
O rosto de Melany parecia reluzir à medida que eu ia contando sobre a ideia da Anica. Jorge por sua vez parecia um pouco mais assustado.
- Mas essa ideia é estupenda! Como é que eu não me lembrei disso antes!? Claro! - gritava Melany extasiada.
- Eu não sei Alice... - iniciou Jorge após engolir uma garfada de arroz.
- Como assim não sabes? - interrogou Melany.
- E se ela não consegue entrar naquela universidade!? Terá de fazer um portefólio que será passado por vários júris até ser aprovado, para além disso, como é que vamos dizer ao Daniel que a partir de agora em vez de uma renda terá de pagar duas!?
- Primeiro meu amor eu já vi alguns trabalhos da nossa Alice e são todos fantásticos, tenho a certeza de que ela conseguirá entrar naquela universidade. E segundo, o Daniel terá de aceitar pagar a renda da filha pelo menos até ela fazer dezoito anos de idade, caso não o faça, estamos cá nós para a ajudar a ela e ao nosso filho!
- Tens a certeza Mel?
- Absoluta! Eles têm de ficar juntos Jorge. Eu bem vi o que esta menina passou no aeroporto quando viu aquele avião levantar voo. Para além disso eles podem começar a trabalhar.
- Sim, eu também pensei nisso caso não entrasse na universidade. - interrompi.
- Claro que sim querida, mas tu vais entrar com certeza!
Continuamos o jantar e os temas das conversas seguintes sobrevoaram a cidade de Londres, Amesterdão, Berlim e Áustria.
Assim que acabamos de arrumar a cozinha eu disse:
- Muito obrigada pelo jantar e, acima de tudo, obrigada por me encorajarem a ir para junto do vosso filho!
- Alice, a única coisa que eu ambiciono é ver o meu filho feliz. E eu sei que a única maneira de isso acontecer é se tu estiveres com ele! - confessou Melany.
Sorri com a sua afirmação, pois, assim como o Henrique, a única forma de eu estar verdadeiramente feliz e realizada é se estiver junto dele.
Nessa noite, já deitada na minha cama o meu telemóvel toca.
- Hello gorgeous! - exclamou ele com um sotaque britânico.
- Hi love!
Estava vestido com uma T-shirt azul escura da Levis. O seu cabelo parecia continuar a crescer de dia para dia.
- Então, o que tens feito?
- Nada de mais. Estive por casa com a Inês e o Vasco. Ontem foi a festinha de final de ano da Ritinha mas como não ligaste não consegui contar-te nada.
- Desculpa amor, é que ontem os rapazes convidaram-me para uma festa e depois quando cheguei a casa já era tarde.
- Outra festa!? - interroguei surpreendida.
- Foi a festa de anos da Lizzy e fomos todos e...
- Quem é a Lizzy? - sinto o meu estomago dar voltas. Como é que ele preferiu ir a uma festa de anos de uma rapariga em vez de ficar a falar comigo.
- Hum, é uma amiga do John. Desculpa amor é que eu não queria dizer-lhes que não. Pensei que ainda chegava a tempo de te ligar, mas...
- Mas não deu, já percebi! - respondi chateada.
- Eih não, não! Não tens o direito de ficar chateada! Durante estes dias quase que nem falamos por tu teres estado a estudar para os exames!
- Como tu disseste Henrique, eu estive a estudar para os exames! Não em festas de anos de pessoas que eu nem sequer conheço... Ou se calhar até conheces... - retorqui irritada.
- Tu não me digas que estás com ciúmes da Lizzy.
Virei a cara sem lhe dar uma resposta.
- Alice, por amor de Deus! Não é nada disso que tu estás a pensar! Eu só fui à festa porque me convidaram, eu nunca tinha visto a rapariga mais gorda. - dizia ele repetidamente, sem receber uma única resposta de minha parte. - Alice por favor, não vamos ficar chateados por uma noite! Eu prometo que a partir de hoje vamos falar todas as noites!
O seu ar preocupado deixou-me mais descansada e acalmou um pouco este sentimento horrível de ciúmes. Detesto sentir-me assim, sentir esta dor no peito que me corrói por dentro.
Conseguimos abstrair-nos do assunto e falamos sobre várias outras coisas, contei-lhe como foi o espetáculo da Ritinha, o pequeno encontro com a menina de caracóis loiros, até acabamos por falar em bebés e como seria caso tivéssemos um.
Assim que desligamos a chamada eram três e meia da manhã. O tempo voa quando estamos "juntos", contudo, caso eu não adormeça já, quem não vai conseguir voar para Inglaterra sou eu.
Levantei-me cedo na manhã seguinte, tomei o pequeno almoço sozinha, pois os meus queridos companheiros de casa ainda devem estar a dormir. Não me posso esquecer de escrever a lista de compras.
Voltei para o meu quarto e fui ao site da TAP para reservar a minha viagem para Londres. O voo está marcado para dia vinte e cinco às seis horas da manhã, com chegada às oito e cinquenta.
Nesse instante, depois de imprimir o bilhete senti que tudo aquilo não era um sonho. Dentro de três dias eu estarei num avião com destino a Inglaterra.
Preparei as malas no fim do almoço com a ajuda da Inês, ela não resiste à tentação de empacotar peças de roupa dentro de uma caixa de plástico com rodinhas.
- Mana não será melhor ligares para o pai a avisar?
- Sim, eu já pensei nisso e é o que eu vou fazer quando acabarmos isto. - respondi, colocando o meu vestido branco, que o Henrique me comprou em Belém, dentro da mala.
Liguei ao meu pai assim que acabei de preparar tudo, deixando apenas o essencial para os dias que faltam.
- Alice? - ouvi a sua voz do outro lado da linha.
- Olá pai. Estou a ligar-te para te dizer uma coisa.
- Aconteceu alguma coisa por aí!? - perguntou. O seu tom de voz parecia preocupado.
- Não. - respondi friamente. - Mas eu gostava de te avisar que vou para Londres ter com o Henrique.
- Vais passar as férias de verão lá? - interrogou. Consigo ouvir facilmente a voz da Tânia por trás.
- Não pai. Eu tenciono ir viver com ele para Inglaterra. Vou candidatar-me a uma universidade de artes e se for preciso arranjarei um trabalho.
- Mas... mas e a faculdade de biologia.
- Eu não sei se percebeste que o meu namorado está em Londres e eu estou em Lisboa. Não vou continuar a viver longe dele pai. Se não quiseres financiar os meus estudos e a minha estadia lá não há problema, eu tenho algum dinheiro guardado e, como já disse, eu posso começar a trabalhar! - respondi com firmeza. Não posso dar parte fraca no que diz respeito à situação do meu pai. Não depois de ele nos ter deixado sozinhas a mim e à minha irmã.
- Não Alice, não é isso! Eu fiquei surpreendido isso. Não fazia ideia de que gostavas de tirar um curso ligado às artes.
- Pois, há muitas coisas que tu não fazes ideia a meu respeito. - atirei.
- Tens razão filha. Mas como é obvio eu financio os teus estudos, pelo menos até fazeres dezoito anos, a partir daí preferia que ficasses por conta própria, tanto tu como a Inês. Vocês já são grandinhas, posso dar-vos um tempo até se estabilizarem, mas, depois disso estão por vossa conta. Eu e a Tânia não conseguimos financiar quatro filhos e sendo que vem mais um a caminho isto torna-se tudo...
- O quê!? - interrompi. A dor de ouvir do meu pai que a partir do momento em que eu fizesse dezoito anos ele parava de me ajudar já era insuportável, mas saber que isso tudo se deve ao facto de uma criança inocente estar a caminho, eu não sei o que pensar.
Um sentimento de revolta começa a gerar-se dentro do meu peito.
- É isso mesmo Alice, vais ter um irmão. A Tânia já está grávida de seis meses, daqui a pouco vamos ter um menino na família.
- Parabéns. - essa foi a única palavra que eu consegui expressar. Sem emoção, felicidade, animo, apenas com raiva.
- Obrigado filha, estamos muito felizes!
- Eu, preciso de desligar - continuei no mesmo tom de voz neutro. - As faturas serão enviadas para o teu email. Adeus pai.
- Adeus A...
Desliguei a chamada.
Três dias se passaram. Agora, sentada no banco do avião começo a tentar imaginar como será viver em Londres. Despedi-me de todos apenas a alguns minutos, mas as saudades começam a aparecer aos poucos à medida que o avião vai levantando voo.
O céu estava limpo, consegui ver as casas a ficarem cada vez mais pequenas, os carros pareciam formigas a voltar em filas para o formigueiro, os campos gigantes agora pareciam peças de um puzzle.
Tentei preparar um discurso para o momento em que o visse, mas não consegui pensar em nada. O meu coração parecia que ia saltar do peito. Tudo aquilo que eu sempre quis durante estes dois anos está finalmente a realizar-se.
Peguei nos meus fones de ouvido, e coloquei a minha playlist a tocar.
- Senhores passageiros informamos que aterraremos no Aeroporto de Londres Heathrow em alguns minutos. - disse a hospedeira de bordo. - A temperatura é de dezasseis graus Celcius e a hora local é oito e quarenta e cinco.
Sentada do lado da janela voltei a olhar para fora. Tons de verde e castanho preenchem a minha visão até que é possível observar vestígios de civilização. O sinal para apertar o cinto voltou a ligar-se, as pessoas voltaram para os seus lugares e a hospedeira voltou a falar:
- Em nome da TAP airlines agradecemos por viajarem connosco.
Já no aeroporto, as malas pareciam nunca mais chegar, comigo trouxe duas malas de viagem, mais uma bolsa pequena onde guardei os pertences mais valiosos. Ainda não consigo acreditar que este é o início de uma nova vida.
Liguei para o Henrique mal entrei no táxi, pedi-lhe que fosse até à London Eye e que fizesse uma vídeo chamada comigo.
- Hi babe! Onde estás? - perguntou-me ele assim que estabeleci ligação.
- Olá, estou num jardim e tu?
- Estou em frente à London Eye como me pediste. Olha! - respondeu mostrando-me a roda gigante atrás de si.
Dando alguns passos consegui vê-lo mesmo à minha frente. O meu coração parou, as minhas mãos tremiam, todo o meu corpo ansiava pelo seu abraço.
- Henrique. Olha para a tua esquerda. - Pedi.
Assim que ele virou o rosto o seu olhar encontrou-se com o meu. Ele ficou perplexo, os seus pés pareciam estar colados ao chão. De repente, assim que cheguei ao pé dele senti os seus braços agarrarem-me pela cintura fazendo-me largar as minhas malas.
- Tu, mas como é que tu!? - perguntante incessantemente ao mesmo tempo que me rodopiava no ar.
- Eu estou aqui meu amor! - eram as únicas palavras que saiam da minha boca.
Beijamo-nos como nunca, um beijo longo, eletrizante, um beijo que transmitia saudade, amor, paixão. Um beijo que já tínhamos guardado há demasiado tempo.
- Tu estás mesmo aqui!?
- E vim para ficar!
TRÊS ANOS DEPOIS
- Henrique, Henrique vem rápido eu não me estou a sentir muito bem! - gritei da casa de banho da nossa nova casa.
Passados três anos consegui acabar o curso de fotografia na Camberwell College of Arts. Sim, fotografia, uma nova paixão que surgiu enquanto passeava pelas ruas de Londres.
O Henrique foi transferido para a equipa A do West Ham United Football Club e eu consegui abrir um estúdio de fotografia no mês passado.
Durante estes três anos trabalhei numa pastelaria ao mesmo tempo que estudava, não foi fácil de conciliar, mas consegui. Assim, conseguimos poupar o dinheiro suficiente para comprar uma casa na periferia de Londres.
- O que se passa Alice!? - perguntou preocupado assim que entrou na casa de banho. Traz vestidos uns calções cinzentos de facto de treino.
- Eu não sei, estou enjoada, não sei o que se passa.
- Já ontem estiveste assim amor, não é melhor ires ao médico ver o que se passa!?
- Sim, talvez seja melhor, vou marcar uma consulta hoje. - respondi.
Nessa tarde, a caminho do hospital passei por uma farmácia. Imediatamente lembrei-me da Anica e dos seus sintomas antes de descobrir que estava grávida.
- Será? - perguntei-me a mim mesma em voz baixa. - Talvez se fizer o teste... mal também não faz.
Entrei no estabelecimento fazendo com que a campainha que estava sobre a porta tocasse.
- Hello, good afternoon! - disse-me o farmacêutico.
- Hi, hum. I would like to buy a pregnancy test.
- Oh, Okay. Here.
- Thak you! How much it costs?
- Five pounds fourty cents, please.
Assim que comprei o teste voltei para casa. O Henrique está no treino de futebol, por isso estarei sozinha.
Retirei-o da caixa cuidadosamente, li as instruções mais do que uma vez e decidi que estava na hora. Três minutos depois uma palavra formou-se no pequeno ecrã.
"Pregnant"
O meu coração deixou de bater durante alguns segundos. Não consigo acreditar que isto me está a acontecer. Voltei a olhar para o teste para me certificar de que não estava a imaginar e realmente não estou.
Um sentimento de alegria percorre o meu corpo de cima abaixo. Eu vou ser mãe!
Coloquei aquele teste dentro de uma caixa e escrevi um cartão para o Henrique, quero surpreendê-lo assim que ele chegar.
- Alice? - chamou-me assim que chegou do treino.
- Estou no quarto, vem cá! - gritei.
- Diz.
- Abre, isto é para ti! - exclamei entusiasmada.
HENRIQUE
A Alice entrega-me uma pequena caixa para as mãos com um bilhete em cima.
- O que é isto? - perguntei.
- Abre e vê. - disse ela sorrindo.
Assim que abri o bilhete uma frase escrita a tinta preta dizia:
"Olá, eu sei que cheguei sem darem por isso, mas agora que estou aqui preciso de saber uma coisa muito importante para mim... Henrique Pereira, aceitas ser o meu papá!?"
Os meus olhos arregalaram-se assim que acabei de ler aquela frase.
- Isto é... isto é mesmo o que eu estou a pensar!?
- Abre a caixa!
Dentro do pequeno pacote branco estava um teste de gravidez positivo.
- Então papá...Aceitas?
- Claro que ACEITO, meu amor!
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