Capítulo 99

HENRIQUE

- Mas como é que conseguiste? Eu não fui aceite, eles viram-me à porrada com o Filipe...

- Nós temos os nossos truques! - revelou a minha mãe.

- Tu também ajudas-te!? -

Ela assentiu com a cabeça.

- Mas, mas então e agora? E nós!? - um sentimento de perda começa a subir pelo meu corpo. Não a posso perder, não quero. Sou capaz de renunciar a tudo isto, a toda a minha carreira só para não a perder.

- E nós vamos continuar juntos, se quiseres claro.

- Se eu quero!? É claro que eu quero! - exclamei felicíssimo. - Mas eu vou estar em Londres e tu cá. Alice eu não sei...

A cara dela parecia confusa, vi o seu corpo começar a tremer e as lágrimas brotarem nos seus lindos olhos claros. Não entendo porque está assim.

- Por uma vez na tua vida podes deixar de ser um parvo! - vociferou a Anica levantando-se do sofá.

- Anh?

- A tua namorada acabou de te oferecer uma vida, a tua vida de sonho e tu és capaz de dizer não a esse presente! - todos ficamos especados a olhar para a loira enquanto ela andava de um lado para o outro. - Eu não sei o que ela está a sentir neste momento, mas acredito que para ela este foi o melhor e o pior presente que te poderia oferecer e mesmo assim ela fê-lo! Ela renunciou a momentos contigo para te ver feliz e tu és capaz de negar isso! É de louvar o amor que ela tem por ti, e acredita que eu já o senti na pele, e tu mesmo assim não és capaz de aceitar a vida que ela te está a querer oferecer! - senti as minhas bochechas ficarem vermelhas, as minhas mãos suadas e uma vontade enorme de espancar alguma coisa. - Acredita que lhe deve estar a custar muito tudo isto e tu...

- E eu o quê anh!? Tu achas que a mim não me custa? Achas que está tudo bem para mim afastar-me do amor da minha vida? Da minha família, dos meus amigos? Achas que é fácil!? - gritei. - Desde que a conheci que o meu maior medo é perdê-la. Quando soube que ela estava naquela cama de hospital jurei a mim mesmo que nunca mais me iria afastar dela. Jurei que a partir desse dia nada nem ninguém nos poderia afastar, e acredita que tu tentaste isso várias vezes! - todos se mantinham calados enquanto eu berrava contra a Anica, contudo, a Alice não parava de chorar ainda ajoelhada aos meus pés. - Acredita que aceitar esta prenda era a primeira coisa que eu faria se ela viesse comigo, mas agora não me faças sentir mal por não me querer separar da melhor coisa que me aconteceu na vida!

- E se ela for? - interrompeu a minha mãe.

- Anh? - indagamos eu e a Alice ao mesmo tempo.

- Sim, e se a Alice for contigo!?

- É impossível, eu ainda nem acabei o décimo segundo ano.

- Sim, mas podes ir ter com ele quando acabares, são só mais dois anos querida. E nesse meio tempo ele pode vir cá, ou tu podes ir a Inglaterra, nada é impossível, basta quererem.

Olhei para a minha namorada e limpei as últimas lágrimas que lhe rolavam pelo rosto. Uma pequena chama de esperança acendeu-se no meu coração.

- A minha mãe tem razão Alice! Inglaterra é já aqui ao lado. Basta querermos que isto pode funcionar.

Ela assentiu afirmativamente com a cabeça, a sua camisola vermelha estava manchada de lágrimas. Num ato de desespero beijei a sua testa, um beijo demorado que acabou com um sorriso de ambos.

- Parece que Londres me espera no próximo ano!

ALICE

Dois anos quase se passaram. Hoje é o último dia de aulas, dia em que acabo o meu décimo segundo ano.

A Anica e o António vieram buscar-me à escola para a festa de final de ano da Ritinha.

O dia em que a minha afilhada nasceu foi um dos dias mais importantes da minha vida, assim que vi aqueles lindos olhos cor de mel foi amor à primeira vista. O seu corpo moldava-se à forma dos meus braços, parecia tão pequena, tão frágil. Foi a primeira vez que peguei num bebé. O medo espalhava-se pelo meu corpo magro sempre que ela se mexia em meu colo.

Vi o António chorar assim que pegou na sua filha, ouvi-o dizer "Não te preocupes meu amor, o papá está aqui para te proteger!".

Os meses passaram a correr, nos primeiros dias ouvia-a chorar no andar debaixo, semanas depois recebemos a notícia de que a Anica iria viver com o António para um apartamento que os pais lhe ofereceram. Começou a andar com apenas dez mesinhos e a falar com um ano, a sua primeira palavra foi "papá", o que deixou o António louco de alegria.

Passado alguns meses de o Henrique ter partido para Inglaterra, recebi a notícia de que o meu pai estava na Grécia com a Tânia. Cheguei a ligar ao Tiago para saber como estavam as coisas. Soube que ele o irmão e o pai voltaram para a casa dos avós e continuaram as suas vidas. O Afonso começou a namorar com um rapaz, descobriu a sua bissexualidade quando conheceu o Miguel, melhor amigo do irmão. O Tiago confessou que ainda tinha sentimentos por mim, passado tanto tempo, mas que tinha começado a sair com uma pessoa que conheceu pelo Instagram.

Após a notícia da partida do meu pai para a Grécia voltei para a minha casa juntamente com a Inês e o Vasco. Infelizmente a Rosa já não está mais connosco, foi viver com o filho mais velho e a família para o Porto. Sinto a sua falta, mas ainda mantemos contacto.

- Estás preparada para ver a nossa bebé vestida de Pequena Sereia!? - perguntou-me a Anica mal entrei no carro do António.

- Mais do que pronta!

A Ritinha entrou para o berçário no ano passado e esta é a sua segunda festinha do colégio. No Natal vimo-la gatinhar pela primeira vez em cima de um palco vestida de Rodolfo.

- Quando é que vais ter com ele? - perguntou-me o António olhando para trás pelo espelho retrovisor.

- Não sei. Ele tem saído imenso com a equipa agora que estão de férias e não temos falado muito por causa dos exames.

Durante estes quase dois anos estivemos juntos três vezes, no Natal, no verão e no meu aniversário. De todas essas vezes foi ele que veio cá. Infelizmente não conseguimos cumprir a promessa de ir e vir as vezes que quiséssemos, mas, tentamos compensar com as vídeo chamadas diárias e quando estávamos juntos aproveitávamos todos os segundos ao máximo.

A última vez que ele esteve cá foi no Natal, o seu cabelo tinha crescido imenso fazendo com que os caracóis caíssem pela sua testa. Estava tão bonito, tão diferente.

- Já pensaste se queres ir para a faculdade? - interrogou a Anica pelo caminho.

- Eu estive a pesquisar algumas que tivessem o curso de biologia, mas não sei se é isso que eu quero. Eu não tenciono continuar longe dele... não sei mesmo o que fazer. Estou tão perdida!

Chegamos ao colégio da Ritinha e estacionamos o carro no subterrâneo. Várias pessoas juntavam-se em pequenos círculos à porta do auditório. Crianças corriam de um lado para o outro.

- Olá! O meu nome é Maria Clara. Como é que te chamas? - disse-me uma menina com aproximadamente cinco anos de idade. O seu cabelo loiro cacheado estava apanhado em dois pequenos totós um de cada lado. Trazia vestido um lindo vestido branco com pormenores em tons de azul.

- Olá pequenina, chamo-me Alice.

- Clarinha não incomodes a senhora filha! - gritou uma mulher alta e magra que parecia ser a mãe.

- Não há problema! Ela é uma menina muito simpática. - respondi, sorrindo para a criança que rodopiava pelo espaço.

- Daqui a uns anos vamos ver a Alice com uma Maria Clara ao colo. - disse a Anica para o António. Ele riu-se.

- Nem pensar, credo, ainda sou nova demais para ser mãe!

- Pois pois, eu também tinha vinte anos quando a Ritinha nasceu.

- Sim, mas eu ainda nem os dezoito fiz, ainda tenho muito tempo para isso! - exclamei.

Contudo, a imagem de ter um bebé nos meus braços ao qual posso chamar de meu não me sai da cabeça durante todo o espetáculo.

- É agora! A nossa menina vai entrar agora! - exclamou o António entusiasmado agarrando a mão da namorada.

A minha afilhada entrou em cima de um cenário em forma de rocha, vestida de Ariel. Os seus colegas vieram a seguir, um vestido de Sebastião e outro de Flounder, assim como os restantes vestidos de sereias e de Rei Tritão.

- Está tudo tão bonito! - exclamei.

No fim do espetáculo recebemos a Ritinha e voltamos para a minha casa onde a Inês e o Vasco já estavam à nossa espera para jantar.

- Chegamos! - gritei ao entrar em casa com a minha afilhada ao colo.

- Olha aí que o casal pode estar num momento íntimo! - disse o António rindo-se.

- Cala-te lá e mete as coisas da menina na sala. - respondeu a Anica tentando não se rir com a afirmação do namorado.

- Olha se não é a minha princesa favorita! - exclamou a Inês enquanto descia as escadas com o namorado. O seu cabelo estava despenteado e a T-shirt do Vasco do avesso.

Olhei para a Anica e sorri ao mesmo tempo que a minha irmã pegava na Ritinha ao colo.

- Ahm... Vasco... - disse enquanto puxava a minha camisola para ele perceber que a sua estava ao contrário.

Ele corou e de imediato retirou a camisola preta e voltou a colocá-la corretamente.

- Alice posso ir pesquisar uma coisa no teu computador? - interrogou a Anica.

- Sim, eu vou buscá-lo...

- Não, não é preciso, podemos ir ao teu quarto. É uma coisa rápida.

Ao chegar ao meu quarto Anica ficou perplexa em frente à porta.

- Uou! Foste tu que pintaste isto!?

- Sim, eu gosto de pintar às vezes.

- Alice, tu já pensaste em vender alguma das tuas telas? - Caminhando pelo quarto ela ia pegando em cada quadro que via.

- Não, não estão nada de especial...

- Nada de especial!? Alice eles são fantásticos! Espera tive uma ideia.

Num segundo ela sentou-se na secretária, ligou o computador e pesquisou alguma coisa no Google.

- Chega cá! - exigiu.

Sentei-me na ponta da cama de forma a conseguir ver o que estava no ecrã do computador.

- O que é isso? - perguntei confusa. Uma imagem de uma modelo com um colete azul florido ocupava metade do ecrã, na outra metade dizia: "Camberwell College of Arts".

- Isto é uma universidade de artes em Londres!

- Não estou a perceber Anica...

- Este é o teu futuro Alice! Tu adoras pintar. Podes ir para Londres, tiras o curso de artes e ficas junto do Henrique! Em Londres as artes são muito consideradas, de certeza que terás futuro como artista plástica ou pintora. Podes até optar por outras áreas dentro das artes, fotografia, design de interiores, tens tanto por onde escolher! Tens de tentar Alice!

Um grito de esperança ecoou dentro de mim. Comecei a imaginar uma vida junto do Henrique, uma vida em Londres, uma vida a pintar.

Eu tenho de tentar.


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