Capítulo 95
ALICE
O meu olhar variava entre o meu pai e a mulher vestida de preto à minha frente. Isto não pode estar a acontecer, não faz sentido, não novamente.
- Alice espera eu posso explicar tudo filha! - implorou o meu pai. Uma frase clichê numa altura destas fica sempre bem, o problema é que eu não gosto de frases feitas.
- Eu não quero explicações! Como é que foste capaz!? - lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos sem eu ter dado conta.
- O que se passa? - ouvi a Inês perguntar assim que saiu do quarto. - Tânia!?
O meu pai olhava-me quase que implorando em silêncio, enquanto a sua querida amante, que, por acaso, tem um marido e filhos no Algarve continuava de cabeça baixa.
- Então não dizem nada!? - provoquei.
Depois de tudo o que aconteceu, depois de todas as discussões causadas por este assunto, depois de quase ter perdido a confiança das duas filhas, volta tudo ao mesmo, estamos de volta ao Daniel que não se importa de estragar uma família para ter umas noites quentes com a melhor amiga da falecida esposa.
- Esperem! Tu e a Tânia!? Não pode ser, é impossível!
- Eu... eu... - gaguejou o meu pai - meninas vamos falar, por favor.
- Não há nada para falar pai! - vociferei. - Só preciso que me respondam a uma pergunta, aliás, que ela me responda a uma pergunta.
Tânia ergueu a cabeça mas não foi capaz de me olhar nos olhos.
- Desde a última vez que nos vimos houve algum tipo de alteração no teu casamento? O David sabe disto?
- Não. - assumiu.
- Está tudo falado entre nós então! Dá última vez que isto aconteceu...
- Última vez!? - perguntou a Inês incrédula. Os seus olhos transmitiam confusão mas ao mesmo tempo raiva.
Não posso esconder-lhe uma coisa tão grave como esta. Tenho a certeza de que, se as suas memórias não tivessem sido apagadas por aquele horrível acidente, ela já estaria completamente fora de si.
- Sim Inês. Não é a primeira vez que isto acontece. Infelizmente isto já vem desde há algum tempo, mas o nosso querido pai disse que estava tudo terminado entre eles...
- Tu e ela!? Vocês são nojentos! Tu tens um marido e filhos no Algarve e mesmo assim consegues estar aqui com o nosso pai como se nada fosse. Provavelmente vais chegar a casa e agir como se nada se passasse, vais deitar-te na cama com o David, o pai dos teus filhos, vais olhar para ele e dizer "Boa noite amor até amanhã" e sair vitoriosa como se o que estivesses a fazer fosse algo correto. Como é que consegues viver contigo própria!? - gritava a Inês enquanto lágrimas lhe caiam do rosto. - Sabes o quê é que tu és!? És uma puta!
- Inês! - vociferou o meu pai.
- E tu cala-te! - exclamou a minha irmã. - Como é que és capaz de andar com a melhor amiga da tua mulher!? Com uma mulher casada! - sorriu num tom irónico. - Tu não tens desculpa alguma. És horrível. Nunca, mas nunca mais me dirijas a palavra, a partir de agora deixei de ser tua filha!
Senti o meu braço esquerdo começar a tremer. Não, isto não pode estar a acontecer novamente. Agarrei a mão da Inês com força e apertei duas vezes, um código criado por nós depois de eu ter saído do hospital.
- A sério!? - ela perguntou assustada.
Acenei afirmativamente com a cabeça enquanto os espasmos passam a ocorrer também nos olhos.
- O que foi!? - perguntou o meu pai.
- Foi que, por tua causa, a Alice está a ter uma crise outra vez!
Apoiei-me na Inês enquanto caminhávamos até ao quarto e deito-me calmamente na cama. Esta doença vai ser o meu maior problema ao longo da vida. Sei que tenho de me acalmar, mas ver o meu pai e a Tânia à minha volta não está a facilitar a situação. Hoje era suposto ser um bom dia...
- Tira-os daqui. - pedi baixinho à Inês e fechei os olhos na esperança de conseguir dormir um pouco.
Não ouvi qualquer tipo de som para além dos passos a saírem do meu quarto e acabei adormecendo.
Acordei com o meu telemóvel a tocar em cima da secretária.
- Estou? - atendi sem ver quem era.
- Alice, então não vens querida?
Olhei para o relógio em cima da mesa de cabeceira que marcava as 19:30h.
- Sim, já saio de casa.
Desliguei.
Ao descer as escadas vi o meu pai no escritório, passei rapidamente na esperança de que ele não me visse, mas sem sucesso.
- Alice?
- Sou a Inês. - menti, sem parar em frente à porta.
- Eu sei que és tu Alice, não vale a pena me tentares enganar. Por favor filha, vamos conversar! - implorou aproximando-se do corredor para me ver.
- Agora não posso, vou a casa do Henrique. - disse dando de ombros.
- Então quando voltares...
Olhei para trás não expressando nenhum tipo de emoção e saí pela porta em direção à casa do meu namorado.
Ao chegar lá toquei à campainha e segundos depois a grande porta castanha abre-se à minha frente.
- Ah és tu. - observou Anica. Não consigo perceber como é que, em pleno inverno, ela consegue estar vestida com uma mini saia e um top extremamente decotado.
- A tua tia?
- Cozinha.
Depois de tanto tempo a tentar, a Anica finalmente percebeu que não me irá conseguir separar do Henrique. Não nos damos bem, mas toleramo-nos mutuamente o que já é um avanço e o único que eu estou disposta a colaborar com.
Dirigi-me à cozinha onde Melany retirava queques de chocolate acabados de fazer do forno. Tenho um pequeno romance com esses bolinhos e não consigo escondê-lo de ninguém. O Henrique goza comigo por comer quatro ou cinco seguidos e diz que assim vou engordar num instante. Vou sentir falta das piadas dele quando já não estiver cá.
- Está tudo bem querida? O teu pai ligou-me agora mesmo a contar que tiveste outra crise. - a sério? Será que também lhe contou porquê que tive essa crise?
- Estou bem, foi uma coisa rápida e acabei por adormecer de seguida.
- Andas a tomar os medicamentos todos os dias!?
- Sim.
- E descansas bem?
- Sim.
A Melany é como uma mãe para mim, muito mais do que o meu pai consegue ser. Ela mima-me, cuida de mim, liga-me várias vezes para perguntar como estou. Sinto que as vezes o Henrique fica com um pouco de ciúmes, mas ele faz exatamente o mesmo quando não estamos juntos.
- Pronto assim está bem, mas vá senta-te aqui e conta-me o que planeaste enquanto comes o teu bolinho. Queres beber alguma coisa?
- Sumo de laranja, eu vou buscar.
- Não, deixa-te estar sentada, eu vou!
Sorri e voltei a sentar-me no banco branco da cozinha.
Falamos durante bastante tempo, contei-lhe tudo o que tinha programado na minha cabeça e apontado na minha agenda e ela adorou todas as ideias. O pai do Henrique chegou a casa algum tempo depois do fim da conversa, enquanto continuamos na cozinha a rir-nos de vídeos antigos do Henrique.
- Então o que estão estas duas lindas mulheres a fazer? - perguntou adentrando pela cozinha e depositando um beijo quente na testa de Melany sorrindo para mim no fim.
- Olha estávamos aqui a ver o Henrique a jogar à bola quando era pequeno.
- Já lhe mostraste o vídeo dele na Serra da Estrela!? - perguntou. - Esse é o meu favorito!
Assim passamos o resto da tarde até ao Henrique voltar do treino às nova da noite.
- Jantas cá Alice! - afirmou Melany entrando na sala onde eu estava a ver um filme com o meu namorado.
- Está bem! - mas, de repente, a imagem da Inês sentada à mesa com o meu pai fez-me perguntar num impulso. - A Inês pode vir cá também?
Percebi o olhar perdido do Henrique ao meu lado. A Melany olhou para mim e acenou positivamente sorrindo.
- What the fuck!? - indagou confuso.
- É que hoje não é um bom dia para jantarmos com o meu pai...
- Porquê? O que aconteceu amor!?
Liguei para a Inês propondo-lhe o convite ao qual ela recusou numa primeira fase, mas acabou preferindo um jantar calmo e constrangedor a um jantar conflituoso ou pizza no quarto.
Ouvi o Henrique perguntar à mãe o que se tinha passado entre mim e o meu pai enquanto eu tentava convencer a minha irmã a vir jantar connosco, portanto, assim que desliguei ele disse-me:
- Já me podes contar o que raio aconteceu!? Porquê que não é bom jantares com o teu pai hoje?
- A tua mãe não sabe? - perguntei curiosa.
- Não.
Compreendo que ele não tenha dito nada, é algo de que se deve envergonhar e se assim não é deveria. Provavelmente a Melany não tem ideia de que a irmã anda a trair o cunhado com um grande amigo da família.
Fomos até o quarto do Henrique enquanto o jantar não estava pronto e esperávamos pela Inês.
- Desembucha Alice! - implorou.
- Houve discussão outra vez hoje...
- Porquê e entre quem!?
- Entre nós e o meu pai. - disse revirando os olhos e largando um suspiro que não sabia ter guardado.
- O que se passou? - aproximou-se de mim e abraçou-me carinhosamente.
- O meu pai e a tua tia... eu e a Inês chegamos a casa e apanhámo-los... tu sabes a fazer o quê... - dá-me vontade de vomitar só de me lembrar do momento em que vi a Tânia sair do quarto a abotoar a camisa preta.
- Não pode! - exclamou incrédulo soltando-me do seu abraço. - Estás a gozar!
- Quem me dera estar a gozar... - afirmei dando de ombros e sentando-me na cama do meu namorado.
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