Capítulo 10
ALICE
Finalmente este dia está a acabar, decidi passá-lo no meu quarto, estava sem vontade alguma de sair e dar de caras com a minha irmã. Sei que ela saiu há pouco tempo, ouvi a porta bater, provavelmente foi jantar fora. Depois de ouvir a playlist inteira da Lana del Rey comecei a pintar, pintei várias coisas, como por exemplo, as estrelas do mar, que ainda não tinha acabado, perto da minha secretária, tal como no meu antigo quarto, pintei também um nascer-do-sol na porta do meu guarda roupa e por último, decidi criar uma moldura para colocar todas as minhas polaroid. Neste momento sinto que tenho o meu quarto de volta, coloquei luzinhas pisca-pisca em cima da cabeceira da minha cama, para dar um ar mais cozy ao quarto e deixei a tocar o gira discos.
Já era tarde e eu ainda não tinha comido nada, para além das torradas que o meu pai preparou ao pequeno almoço, a minha barriga suplicava por qualquer tipo de alimento. Desci as escadas e dirigi-me à cozinha, parece que foi o único trajeto que fiz hoje. Não faço ideia de onde deixei o meu telemóvel, tinha-o enquanto estava a falar com o Henrique hoje de manhã, mas depois nunca mais o vi.
Subi até ao terraço para ver se o encontrava e lá estava ele, o aparelho não é assim grande coisa, tenho um iPhone 6, algo que pelos vistos já passou de moda para a Inês, ela não descansou enquanto não recebeu o iPhone X no natal passado.
Estranho, não tenho nenhuma notificação por abrir, eu não sou muito de ligar a redes sociais, mas costumo ter sempre notificações do wattpad, o site onde leio livros. Mas bom, talvez não tenham feito postagens hoje. Neste momento estou a ler um livro que tenho gostado imenso, o seu nome é "As 12 rosas" e a história de Sarah têm me tocado imenso!
Ouvi a minha barriga roncar pela milésima vez hoje, preciso mesmo de comer alguma coisa antes que desmaie. Volto para a cozinha e pego numa taça onde coloco iogurte natural e cereais, podem julgar-me, mas eu detesto leite, não tenho qualquer tipo de alergia, mas não gosto do sabor nem da textura daquele líquido branco.
Como será que iria ser o tal jantar? Porquê convidar-me só a mim? Qual é o interesse dele? Será que a mãe dele quer mesmo conhecer-me?
Não entendo o motivo de estar constantemente a pensar neste assunto, o Henrique foi um parvo, não comigo, mas com a minha irmã e eu fui ainda mais parva por tê-la defendido tendo em conta as circunstâncias em que acabamos.
Talvez seja melhor ir dormir, a minha cabeça parece que vai rebentar, já pensei no nome "Henrique" umas dez mil vezes hoje e nada mudou.
Subi para o meu quarto novamente, parece que as únicas divisões que esta casa tem são a cozinha, o meu quarto, a minha casa de banho e o terraço, não percorro mais nenhuma ultimamente.
Deitei-me na cama e coloquei uma serie no computador, escolhi "The Society", já tinha ouvido falar bem dela nas redes sociais e eu adoro os géneros drama e mistério, portanto pode ser que goste, para além disso, é uma série da Netflix o que me faz ter ainda mais esperanças.
A serie começou bem, mas, por outro lado, eu estava demasiado cansada para conseguir acabar o primeiro episódio e acabei por adormecer.
HENRIQUE
- Então Alice estás a gostar do jantar? - perguntei eu. Estou contente por ela ter vindo, pensei que tivesse ficado chateada comigo e que não me quisesse ver mais à frente, mas parece que me enganei. Porém, ela está estranha, eu conheci a Alice como uma rapariga tímida, que não gosta muito de dar nas vistas e que não faz muitas perguntas, mas ela hoje está diferente, ainda não parou de falar com os meus pais, tem feito imensas questões relativas à nossa vida aqui em Lisboa, à nossa família e principalmente a meu respeito.
- Está tudo fantástico, estou a adorar cada segundo, vocês são todos muito simpáticos e a Melany cozinha muito bem!
- É verdade Alice, a minha Melany tem umas mãos de fada! - respondeu o meu pai.
Sinceramente não sei se prefiro a Alice mais extrovertida ou a Alice mais tímida, todas as raparigas que conheci até hoje são assim, falam imenso, fazem muitas perguntas, atiram-se a mim, e eu feito parvo dou-lhes trela e fico com elas. Mas a Alice não, ela é diferente, ela trata-me como se eu fosse um rapaz como os outros e não como o Henrique, jogador do Benfica B. O problema, é que eu não estou habituado a essa indiferença por parte das raparigas, estou habituado a tê-las por perto, a ter toda a sua atenção e quando a Alice me põe de parte, eu não reajo bem e acontece o que aconteceu hoje de manhã.
- Henrique!? Henrique filho está tudo bem? - gritava a minha mãe.
- Anh?
- Estás bem Henrique!? - perguntou-me a Alice, os seus olhos estavam vidrados em mim, será que ela também gosta de mim? Será que me mentiu e disse que era a Inês só para me chatear? Talvez isto seja tudo um filme da minha cabeça!
- Estou bem sim! Desculpem, estavam a falar de quê?
Os meus pais riram-se, mas a Alice não entendeu o que aconteceu. O que se passa comigo? Porquê que parece que estou a começar a gostar de uma rapariga mais nova que eu, muito mais nova alias, ela tem quinze anos e mesmo fazendo dezasseis no próximo mês continuam a ser três anos de diferença. Eu nasci em Fevereiro, no dia dos namorados, talvez seja por isso que sempre tive tantas namoradas. Okay Henrique, até tu reparaste que acabaste de ser extremamente convencido agora.
Voltando aos pensamentos iniciais, como é que é possível tudo isto, como é que é possível de todas as vezes que olho para ela o meu coração disparar, os meus joelhos tremerem. Os olhos dela são lindos, azuis, o seu cabelo tem um brilho que não consigo explicar e o seu perfume deixa-me louco! Isto nunca me aconteceu, nunca nenhuma rapariga me deixou neste estado! Todas elas eram banais, diferentes, mas a Alice não, ela é delicada, meiga, bondosa com toda a gente, menos comigo, até agora! O que mudou?
O jantar terminou, a minha mãe desligou-me os pensamentos assim que me deu um pequeno pontapé por debaixo da mesa, para que eu voltasse do transe. Não comi quase nada, penso que passei o jantar todo a olhar para ela. Será que ela reparou?
- Henrique porquê que não vais mostrar o teu quarto à Alice!? - perguntou a minha mãe. Fiquei chocado com a pergunta, confesso. Não é normal a mãe dizer ao próprio filho para levar a rapariga para o quarto.
- Sim Henrique, gostava muito de ver o teu quarto! - respondeu a Alice. Gostava? Ela nunca me levou ao quarto dela, nem mesmo quando a ajudei com as arrumações, dizia que fazia parte da sua privacidade e agora quer ver o meu. Eu juro que não estou a entender o que está a acontecer com ela esta noite.
- Sim, porque não!?
- Mas deixa a porta aberta! - exclamou a minha mãe piscando-me o olho. Ela acha mesmo que eu iria fazer alguma coisa com a Alice, será que ela já reparou que eu sinto alguma coisa pela rapariga que está sentada à minha frente. Talvez sim, a isso se chama instinto maternal.
Indiquei à Alice o caminho, o meu quarto não está muito arrumado, mas também não está algo fora do normal, talvez tenha a roupa do treino espalhada pelo chão, mas nada mais.
O meu quarto fica no primeiro andar, é um quarto simples, eu nunca gostei de nenhum tema em especial como por exemplo a Marvel ou a DC como todos os rapazes, sempre fui mais de futebol, mas não ia colocar um tapete com um relvado no chão do meu quarto! Já não tenho dez anos!
- Uau, o teu quarto é incrível! - disse-me ela enquanto entrava. Corri para apanhar as roupas do chão e colocá-las no cesto da roupa suja o que lhe causou um ataque de riso.
- Calma Henrique! É normal teres roupa espalhada pelo quarto, és um rapaz! - dizia enquanto se ria. Okay, ela está muito estranha esta noite, se fosse noutro dia aposto que iria dizer: "Porquê que os rapazes têm sempre os seus quartos tão desarrumados? Não é por serem rapazes que têm esse direito!".
- Bem, queres fazer alguma coisa? Podemos ver um filme no computador, ouvir música, pintar talvez?
- Ver um filme parece-me bem!
- Deixa-me adivinhar, comédia!
- Ahm, por acaso prefiro terror!
- Terror? De certeza?
- Sim, de certeza, podes ser tu a escolher! - disse ela enquanto tirava as sapatilhas e se deitava na minha cama. Estou surpreendido com a escolha do género, nunca pensei que ela fosse fã de terror, nunca a imaginei a ver esse tipo de filmes, ela é tão serena.
- "The Conjuring" já viste?
- Sim, o primeiro, mas ainda não vi o segundo, caso queiras pôr esse!
- Tudo bem, o segundo será!
Deitei-me ao lado dela na cama, mas não me encostei, não quero que ela pense que me estou a atirar a ela e que desate a fugir daqui, já chegou a discussão de hoje de manhã.
- Henrique, estou a ficar com frio, podes ir buscar uma manta por favor!?
- Claro!
Peguei na manta que estava colocada por cima do sofá de canto que tenho no quarto e comecei a cobri-la, primeiro os pés, depois as pernas e o tronco e assim que cheguei perto dos seus ombros, ela virou a cara de repente fazendo com que os nossos lábios colidissem um com o outro, levando-me para outro universo que eu nunca pensei que pudesse vir a conhecer.