Capítulo 80
INÊS
Assim que cheguei da escola, atirei a mala para o sofá e corri até à cozinha. A Rosa estava toda atarefada por detrás do balcão, o avental azul escuro estava agora praticamente todo branco e o seu rosto enrugado não escondia os restos de farinha que utilizou para fazer as suas deliciosas bolachas com pepitas de chocolate, as minhas favoritas.
- Então menina Inês que correria toda é esta!? - exclamou ela. Nas suas mãos segurava o tabuleiro com as bolachas que estavam prontas para ir ao forno.
- Precisas de ajuda? Posso fazer qualquer coisa, um pudim, gelatina, bolo de chocolate, o que quiseres! - estou ansiosa pelo jantar de logo e preciso de me manter ocupada, caso contrário acho que entro em pânico.
- Oh, o que seria agora a menina vir para aqui cozinhar, nem pensar! - ria. - Além disso, tudo o que a menina disse já está pronto. - encolheu os ombros e limpou as mãos com o pano que estava colocado no bolso do avental.
- Então vou pôr a mesa! - exclamei sorrindo.
- Porquê que a menina não vai lá para cima, toma um duche, prepara-se e quando estiver na hora do jantar eu chamo-a?
- Achas melhor? É que eu não sei bem o que fazer. Quero que logo esteja tudo perfeito!
- Então vá, vá-se preparar que eu trato de tudo aqui em baixo. Olhe que quando eu era nova a minha mãe dizia-me que eu tinha um bom olho para a decoração! Vai ver que vai gostar!
- Obrigada Rosa, és a melhor!
Corri até ao meu quarto, são quase seis e meia da tarde e tanto o meu pai como a Alice devem estar a chegar, espero que ela tenha resolvido os problemas com o Henrique, até porque ele também está convidado para o jantar e eu não quero que o mau ambiente estrague tudo.
Começo a pensar que talvez esteja a stressar um pouco demais, mas eu acho que estou completamente apaixonada pelo Vasco, nunca conheci ninguém como ele, pelo menos não que me lembre. Ele é lindo, é compreensivo, foi ele que me levou para o hospital no dia do meu acidente, devo-lhe a minha vida, para além de que é incrivelmente bom na...
- Cheguei, então como estás!?
- Credo Alice que susto! Não sabes bater?
- Eu bati várias vezes, mas tu não respondias! - devia estar tão interiorizada nos meus pensamentos que nem ouvi as batidas na porta. Mas ela pregou-me um susto tão grande que deixei cair o meu telemóvel ao chão.
- E então como é que ficaram as coisas com o Mr. Jogador do Benfica? - perguntei, enquanto apanhava o telemóvel e me certificava de que não tinha partido a tela.
- Ficaram bem. - disse ela sorrindo e baixando o rosto, parece envergonhada.
- Ui, o quê que aconteceu, vá conta tudo!
- Nada de mais, conversamos e fizemos as pazes, mas ele foi tão querido comigo, não me largou um segundo depois, vinha buscar-me a todas as salas onde eu tinha aulas e ficamos a namorar quase até ao segundo toque em todos os intervalos! E...
- Pronto okay, okay, demasiado mel para mim! - exclamei rindo-me da cara de parva apaixonada da minha irmã. - Já sabes o que vais vestir!?
- Eu não estou propriamente nua Inês...
- Deixa de ser assim, sabes bem que este jantar é importante para mim e tudo tem de estar perfeito, até tu, por muito difícil que isso seja.
- Ah ah ah, que piada. - A Alice revirou os olhos, encolheu os ombros e saiu em direção ao quarto dela.
Abri o guarda roupa e retirei de lá um vestido azul marinho com bolinhas brancas de manga curta, acima do joelho e com um decote em V. Não quero estar demasiado formal nem demasiado informal, portanto decidi que talvez as minhas sandálias pretas da Shein ficassem perfeitas para o look que eu pretendo.
Ouvi a voz do meu pai e percebi que tinha chegado. Sei que ele gostava do Vasco, penso que lhe estará eternamente grato por me ter salvo a vida, mas já percebi que se dão bastante bem tirando esse facto, pelo menos muito melhor do que com Henrique, disso tenho a certeza.
- Filha a que horas é que eles chegam? - perguntou ele entrando no meu quarto sem bater.
- Pai! Já te pedi para bateres à porta antes de entrares, imagina que estava nua!
- Tens razão Inês desculpa. Mas a que horas é que eles chegam? - estava impaciente, por isso, decidi responder calmamente para não o deixar ainda mais irritado. Só espero que à hora do jantar esteja mais calmo.
- O jantar está marcado para as nove, portanto por volta dessa hora devem estar cá.
- Está bem, vou tomar um duche então. - sorriu e dirigiu-se à porta.
- Nem penses, primeiro vou eu! Sabes bem que demoro sempre muito tempo para me arranjar, por isso, é melhor eu ir primeiro. - sorri e forma carinhosa para ele.
- Claro... - revirou os olhos. - Vai lá tu primeiro!
Já eram oito e meia quando me acabei de arranjar, ouvi o Henrique chegar e entrar no quarto da Alice há meia hora atrás, espero que ela já esteja pronta. Fiz uma maquilhagem simples e coloquei uns brincos de pérolas, os meus favoritos.
Olhei-me pela milésima vez aos espelho e recebi uma mensagem no telemóvel.
"Estamos quase a chegar. Bjs"
O meu coração acelerou e um arrepio intenso percorreu todo o meu corpo, voltei a olhar para o espelho e sorri para a moldura com a foto da minha mãe.
- Gostava que estivesses aqui. - sussurrei ainda olhando para ela.
Sinto muito a falta da minha mãe, nunca fui capaz de demonstrar isso, mas a verdade, é que nunca consegui superar a sua morte. Tenho saudades de todos os momentos que passava com ela, principalmente aqueles em que estávamos só as duas, sentadas no sofá da casa no Algarve a ver um filme. Não gostava quando a Alice estava lá, ela conseguia roubar sempre as atenções todas para si e isso irritava-me.
- Inês tocaram à campainha! - gritou a Alice à porta do meu quarto.
Respirei fundo, ajeitei o vestido e corri até à porta. A Alice e o Henrique vieram atrás de mim para os receber, tal como eu pedi, assim como o meu pai.
- Olá boa noite! - exclamei sorrindo, assim que abri a porta. O Vasco traz vestido uma camisa preta de manga curta e umas calças pretas rasgadas, com uns ténis também eles pretos. Nunca pensei vir a gostar tanto da cor preta como tenho gostado nestes últimos tempos.
- Boa noite! - exclamou o pai do Vasco sorrindo e com uma garrafa de vinho na mão.
- Entrem por favor, sintam-se à vontade.
- Você!? - gritou a Alice com um semblante surpreso.