Capítulo 72

ALICE

O verão está a acabar, depois da Inês ter saído do hospital e ter voltado para casa as coisas acalmaram um pouco com o meu pai. O Vasco tem vindo visitá-la às vezes, contrariamente ao Enzo, que depois de descobrir tudo o que se passou com ela decidiu que seria melhor ela nem se lembrar dele, nunca entendi bem porquê. A sua memória continua na mesma, por isso, temos feito com que se sinta melhor e com que vá criando novas recordações aos poucos. Temos-lhe contado histórias engraçadas suas, já lhe falamos da mãe e do motivo pelo qual ela já não está cá, convidamos também alguns dos seus amigos da escola de artes e ela adorou saber que ia começar a dançar com todos eles. Penso que está a recuperar bem, às vezes diz que se conseguiu lembrar de algo num sonho, mas quando acorda esqueceu-se de tudo. A minha irmã está diferente, talvez nem tudo tenha sido mau, talvez o facto de ela ter perdido a memória tenha sido bom, assim ela pode começar uma nova vida, uma vida mais correta desta vez.

Amanhã é o meu primeiro dia de aulas na secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, o meu pai conseguiu colocar-me na mesma escola do Henrique, mas, este é o seu último ano, já eu, ainda tenho mais três anos pela frente. O meu namorado falou-me um pouco da escola, mas eu já conhecia um bocadinho dela, pois era a escola onde foram gravados os "Morangos com Açúcar".

O meu telemóvel tocou.

- Então, preparada para o grande dia!? - perguntou o senhor convencido do outro lado da linha.

- Hmmm, mais ou menos...

- Vai à janela!

Abri a cortina azul e lá estava ele no seu quarto.

- O que foi!? - perguntei curiosa ainda pelo telemóvel. O Henrique baixou-se atrás da secretária e apareceu logo a seguir, tinha uma saca grande e vermelha na mão, mas não deu para perceber o que tinha no seu interior. - O que é isso!? - perguntei.

- Surpresa! Se quiseres saber, vais ter de vir aqui!

- Dá-me um minuto!

Desci as escadas apressadamente e corri até à porta. Assim que a abri lá estava o Vasco. Este rapaz é misterioso, veste-se sempre de preto, mas essa cor fica-lhe mesmo muito bem , o seu cabelo cresceu um pouco desde o acidente da Inês, mas a barba está sempre feita. Penso que tem a idade do Henrique, mas ele já não anda na escola.

- Olá Alice, estás boa!?

- Oi, sim, tudo bem. Vens ver a Inês?

Ele sorriu e cumprimentou-me com dois beijos no rosto. O seu perfume é muito bom, mas não consigo compará-lo ao do Henrique. Não sei se ele sente algo por ela, mas eu gostava que eles namorassem, ele é incrivelmente simpático, é cuidadoso e gosta muito da companhia da Inês.

- Ela está lá em cima, se quiseres eu posso acompanhar-te.

- Não é preciso, eu sei o caminho. - respondeu-me ele corado. Nunca pensei que este rapaz, alto e musculado fosse tão envergonhado, o seu aspeto não transmite nenhuma insegurança, até pelo contrário, mas nunca devemos julgar um livro pela capa.

Fechei a porta atrás de mim e fui até casa do Henrique.

HENRIQUE

Depois de ter desligado a chamada com a Alice a campainha de minha casa tocou.

- Mãe, a porta! - gritei para o andar de baixo. - Mãe!? - provavelmente ela já foi para o hospital e não me avisou. Gostava que por alguma vez na sua vida tivesse horários certos, seria muito mais fácil.

A Alice deve estar mesmo curiosa com a prenda, pela forma que toca insistentemente.

- Olá prin...

- Olá priminho!

- Anica!? O que estás aqui a fazer!? Não faço ideia do que esta louca está a fazer em minha casa, mas pelo tamanho da mala que traz consigo começo a ficar assustado.

- Não me cumprimentas!? - A Anica mudou bastante desde a última vez que a vi, menos aquela personalidade de merda, isso continua igual. Pintou o cabelo de loiro e colocou um piercing no nariz, as suas roupas estão cada vez mais curtas, coisa que há uns tempos atrás me deixaria louco, mas agora só me dá nojo. - Hello... Henrique...

- O que foi?

- Vais deixar-me entrar ou vou ter de ficar muito mais tempo à porta!?

ALICE

Depois de passar pelo jardim que divide as duas casas, fui até à do Henrique. Um Mini Cooper azul está estacionado em cima do passeio, não conheço o carro, mas também não me interessa, por isso, dirigi-me até à entrada.

Assim que cheguei ao portão vi um rapariga loira vestida com uma mini saia, que mais parece um cachecol, abraçada ao meu namorado. Fiquei especada no portão até que ele me viu e correu na minha direção deixando aquela Barbie falsa à porta.

- Olá princesa! - exclamou ele tentando dar-me um beijo ao qual eu virei a cara. - O que foi?

- Quem é aquela!? - vociferei.

- É a afilhada do meu pai, chama-se Anica.

- E o que é que ela está aqui a fazer?

- Não sei bem, ainda não lhe perguntei. Anda eu apresento-vos!

Ainda não conheci aquela rapariga, mas já não gosto dela. Espero bem que aquela mala não signifique que vai ficar aqui a viver.

O Henrique deu-me a mão e levou-me até à porta.

- Alice esta é a Anica, Anica esta é a Alice, a minha namorada.

- Olá Alice, eu sou a prima do Henrique! - exclamou ela toda entusiasmada. A sua voz é irritante, parece uma galinha esquizofrénica.

Encaramo-nos durante alguns segundos, risos falsos foram lançados mutuamente, até que o meu namorado finalmente quebrou o gelo.

- A minha mãe ainda não chegou Anica, por isso não ...

- Ah, não há problema! Basta me dizeres onde é o meu quarto e eu deixo lá as minhas coisas!

- Anh!? - exclamamos eu e o Henrique ao mesmo tempo.

- Coração eu vou ficar aqui a viver convosco! Vamos ser da mesma turma, não é um máximo!?

Olhei para o Henrique e fiquei à espera de que dissesse alguma coisa, mas ele simplesmente mandou-a entrar e colocar as suas coisas no quarto de hóspedes, que fica no andar de baixo.

Não gosto dela, nem quero que ela fique aqui a viver. Conheço muito bem raparigas como ela, mesquinhas e convencidas que são mais do que as outras. Vi perfeitamente a maneira como ela abraçou o Henrique e sinceramente não gostei nem um bocadinho.

- Vamos lá para cima? - perguntou-me ele baixinho.

Acenei afirmativamente com a cabeça e segui-o pelas escadas.

- Onde vão!? Henrique ainda não me apresentaste a casa! - exclamou a galinha de unhas de gel.

- Agora não posso Anica, tenho cenas para fazer, depois...

- Ah tá! Pensei que quisesses estar comigo como antes...

Depois de ela ter dito isto, ele pegou-me na mão e levou-me até ao quarto. Estou furiosa, quero perceber o que é que ela quis dizer com aquilo. Será que eles já tiveram alguma coisa, já namoraram? Não, eles são primos! Mas isso pode não interessar nada...

- O que é que ela quis dizer com aquilo!? - perguntei sentando-me na cama enquanto ele fechava a porta do quarto.

- Esquece ela é parva!

- Porquê que ela disse que querias estar com ela como antes!? O que aconteceu entre vocês?

- Nada Alice! Esta miúda é que não bate bem, já te disse!

- Estás a dizer-me a verdade!? Nunca tiveram nada um com o outro?

- Já te disse que não! E mesmo se tivéssemos tido... qual é o problema!?

- O problema é que... Nada! Não há problema nenhum! - detesto isto que estou a sentir, parece que não consigo controlar-me, parece que tudo aquilo que a porca de mini saia diga me deixa fora de mim, só me apetece arrancar-lhe aqueles cabelos, um por um.

- Tu estás com ciúmes Alice!?

- Quem eu! Daquela galinha!? Achas mesmo?

- Galinha!? - perguntou ele rindo-se desalmadamente. Já falei de mais, não devia ter-lhe chamado nomes em voz alta, agora de certeza que ele não se vai calar com isto. - Admite Alice! Tu estás com ciúmes da Anica!

- Não, não estou!

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