Capítulo 71

O Tiago olhou-me de cima a baixo, parecia que estava a ver um fantasma à sua frente. Não gostei nada da forma como ambos entraram em minha casa, mas penso que seja pelo facto de o Afonso estar preocupado com a minha irmã e, apesar de isso não lhe dar o direito de fazer o que fez, eu dou-lhe um desconto.

- Onde é que ela está!? - perguntava o irmão do meu ex namorado insistentemente.

- Primeiro vais acalmar-te! - exclamei eu. Não admito que fale para mim desta maneira. Desde o dia da minha festa de anos, que nem ele nem o Tiago dão notícias, não nos dizem nada. Não faço ideia se sabem da relação entre o meu pai e a Tânia, mas se não sabem também não sou eu que lhes vou contar.

- Alice eu não volto a perguntar! Onde é que ela está caramba!? - vociferou ele. O seu olhar é frio, parece que me quer bater.

- Tu não vais voltar a perguntar não! Se voltas a falar assim para a minha namorada, eu parto-te essa cara toda! - olhei para o cimo das escadas e lá estava o Henrique, a sua pele morena quase por completo à vista de todos, a única peça que ele vestiu foi os boxers pretos.

Admirei-o boquiaberta, não sei se pelo facto de estar assim vestido e isso me deixar completamente descontrolada, ou se é pela forma como ele desce as escadas e se coloca ao meu lado enfrentando os primos.

- E pronto, chegou o cavaleiro andante! Mas tu não te cansas de andar atrás da pitinha!? - perguntou o Afonso ironicamente. O Tiago mantinha-se calado ao lado do irmão e nem abriu a boca para me defender, é mesmo cobarde.

- E tu não te cansas de apanhar nesse focinho!? - tenho um pressentimento que isto não vai correr bem.

- Mas pelos vistos a princesinha anda mudada... - começou o Afonso aproximando-se de mim. - Nunca pensei que fosses tão espevitada Alicesinha... se soubesse tinha dito ao meu irmão para aproveitar enquanto podia!

- Eu estou a avisar-te! - vociferou o Henrique. - Baza daqui!

- Só porque andas a comer a ex do meu irmão já pensas que és gente!?

Olhei para o Afonso nos olhos e deixei a minha mão fazer o que queria. Ele não fala comigo desta maneira, não me vai rebaixar. Nunca pensei que aquele rapaz vidrado em computadores e que nunca saía de casa fosse um monstro destes.

- És nojento Afonso! - exclamei eu retirando a minha mão do seu rosto agora vermelho. - encarei o Tiago e ele continuava a olhar-me dos pés à cabeça.

- Tu... tu fizeste mesmo aquilo que ele disse? - perguntou-me ele.

- Não tens nada a ver com isso! - esbravejou o Henrique agarrando-me pela cintura. Eu sei que ele está a tentar marcar uma certa posição aqui e também sei que ele não se importava de espetar na cara do Tiago que tudo isto é verdade, mas por respeito a mim não o faz. Só que eu não me posso submeter a isto.

- Sim! Sim é verdade! Apesar de não teres nada a ver com isso... Eu não vos devo explicações... a nenhum dos dois, por isso, agradecia que saíssem imediatamente de minha casa!

- Eu não acredito Alice... - repetia o Tiago com um ar de descontentamento.

- Tu não a ouviste!? Bazem!

O Afonso e o irmão olharam para nós novamente e dirigiram-se à porta. Não consigo acreditar em tudo aquilo que acabou de acontecer aqui. Porquê que nunca nada corre como é esperado? Porquê que tem de haver sempre alguém a meter-se na minha vida?

O Tiago é uma desilusão para mim, nunca pensei que ele me tratasse desta forma, que deixasse o irmão insultar-me, sem dizer uma única palavra em minha defesa. Ele não vale nada.

- A Inês está no hospital onde o meu pai trabalha. - disse antes de fechar a porta.

HENRIQUE

Já não posso ver estes gajos à frente, eles tiram-me do sério em segundos, mas eu não quero voltar a passar-me em frente da Alice. Vi bem a sua cara quando o Afonso falou de nós e quando a expôs em frente ao Tiago, mas, assim que a ia defender, ela conseguiu fazê-lo muito melhor sozinha.

Quero perguntar-lhe como está, mas pela expressão do seu rosto consigo perceber que não quer falar.

- Anda cá! - disse eu chamando-a para mim, assim que ela acabou de fechar a porta.

Abracei-a e beijei o seu cabelo, não quero que ela se sinta assim, já basta o que basta e não são uns filhos da mãe daqueles que a vão deitar abaixo, eu não vou deixar.

- O que é que eu fiz de tão mal para merecer isto!? - lamentava-se ela enquanto chorava nos meus braços.

- Tu não fizeste nada princesa... aqueles filhos da...

- Henrique...

- Aqueles filhos da mãe... não tinham o direito de chegar aqui e fazer o que fizeram. Eu devia era ter-lhes partido aqueles dentes todos mal os ouvi entrar aos berros aqui em casa.

- Não digas isso... tu sabes que eu não gosto quando andas à porrada com alguém!

- Mas eles insultaram-te Alice... e eu não posso admitir que insultem a pessoa que eu amo! - estou furioso, e de cada vez que me lembro daquele caralho do Afonso a insinuar que a minha namorada é uma ...

- Henrique esquece isso!

- Eu não consigo esquecer amor... sempre que me lembro dá-me uma vontade de...

- Acabou!

ALICE

Eu sei que ele talvez tenha razão, talvez o Afonso devesse mesmo ter levado uma tareia, mas eu não gosto quando resolvem as coisas assim. Gosto da maneira como o Henrique me defende, mas não quero que se prejudique por minha causa.

Olhei para ele e, colocando-me em bicos de pés, deixei-lhe um beijo no queixo.

- Tenho fome. - disse eu.

- Eu também já comia alguma coisa...

- Desculpa, eu devia ter encomendado alguma coisa para almoçarmos.

- Amor já são cinco da tarde, até a hora do lanche nós saltamos! - respondeu ele rindo-se.

Estou completamente perdida no tempo e a morrer de fome. A Rosa pediu este dia de folga o que significa que não temos comida preparada. Nestas alturas sinto-me uma menina mimada, que não é capaz nem de preparar uma refeição para si própria, para além de uma salada, ou uns ovos mexidos.

- Encomendamos pizza!? - perguntou ele com um grande sorriso na cara. Começo a ter cada vez mais certezas de que pizza é a sua comida favorita, pelo menos foi aquilo que comemos no nosso primeiro jantar cá em casa.

- Sim, pode ser! Vou para a cozinha.

- Okay.

Enquanto pus a mesa não vi o Henrique, penso que foi para o meu quarto, mas também não tenho a certeza.

A pizza não tardou muito a chegar e mal o moço se foi embora eu chamei pelo meu namorado:

- Babe a pizza já chegou, vens ou não!? - digo enquanto me dirijo à cozinha.

- Adorava vir-me agora, mas acho que temos uma pizza para comer primeiro! - disse ele piscando-me o olho e sentando-se à mesa.

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