Capítulo 49

HENRIQUE

Estacionei o carro dentro da garagem, o meu pai deixou o dele à frente de casa. A Alice ainda não conseguiu parar de chorar, as lágrimas caiem pelo seu rosto e a sua respiração é sufocante, não consigo vê-la assim, quero entender o que se passa, quero ajudá-la de alguma forma, só não sei o que fazer. Nunca passei por nada semelhante, nem fazia ideia de que o doutor Daniel fosse capaz de andar com uma mulher casada.

- Alice, bebé, anda, vamos para o meu quarto. - disse eu abrindo-lhe a porta do acompanhante e oferecendo a minha mão para ajudá-la a sair do Mercedes.

A noite ficou fria de repente, este não era de todo o serão que ela queria passar hoje, o objetivo era divertirmo-nos, talvez beber um pouco, estarmos bem, como adolescentes normais, mas, parece que acontece sempre alguma coisa para prejudicar a nossa vida quando tudo corre bem durante muito tempo.

Ela não pronunciou uma única palavra até chegarmos ao quarto, quando abri a porta, reparei que tinha deixado a janela aberta e, por conseguinte, o espaço estava gelado.

- Tens frio? - perguntei estupidamente quando a vi abraçar-se a ela mesma. O vestido preto que ela traz vestido é demasiado fino para o frio que está a fazer-se agora, mas fica-lhe lindamente, as suas curvas ficam bastante acentuadas e deixam-na mais sexy do que aquilo que ela já é.

- Sim, um bocado. - respondeu-me ela fungando o nariz.

Apressei-me para fechar a janela e ela dirigiu-se à cama. Não é a primeira vez que dormimos juntos e infelizmente, a razão é exatamente a mesma, o pai dela. Detesto vê-la assim, sinto que sou impotente, que não consigo ajudá-la de maneira nenhuma.

- Podes arranjar-me um pijama ou uma T-shirt, alguma coisa mais confortável? - perguntou-me ela com a voz rouca de tanto chorar.

- Claro amor, talvez seja melhor dormires com uma sweatshirt, é mais quente.

- Sim, pode ser. - aceitou ela.

Corri para o guarda roupa e escolhi uma camisola que gosto imenso, gosto de a ver com a minha roupa, sinto que é mais uma coisa que partilhamos, ainda por cima, ela fica muito fofa dentro das minhas camisolas gigantes. Entreguei-lhe a camisola e virei-me, sei que ela não quer apressar as coisas e hoje não é o melhor dia para tentar algo com ela.

- Queres que saia? - pergunto na esperança de que ela negue.

- Não é preciso, se quiseres podes colocar um filme no computador, ou ligar a televisão.

Fiquei surpreendido com a resposta apesar de ser a que eu queria ouvir, porém, fiz o que ela me pediu. Sentei-me aos pés da cama e fui fazendo zapping até encontrar um filme que talvez ela vá gostar, virei-me para ela e deparei-me com algo que me prendeu o olhar.

- Pode... - iniciei eu quando a vi apenas em roupa interior. O seu conjunto de cuecas e sutiã de renda pretos sobressaem relativamente ao seu tom de pele claro.

Ela olhou para mim quando me ouviu iniciar uma frase, porém, mesmo reparando que eu estava a olhar para ela, não se tapou. Agiu normalmente e continuou a vestir a minha sweatshirt.

- Vais ficar a olhar para mim durante muito tempo? - perguntou ela com um pequeno sorriso no rosto. Bem, ao menos fiz com que sorrisse, nem que tenha sido por pouco tempo.

- Hum, desculpa, não foi minha intensão, é só que...

- Já escolheste o filme? - interrompeu-me ela propositadamente e sentou-se a meu lado.

- "Pretty Woman", gostas? - perguntei. Sei que ela gosta de romances e este filme é considerado um dos melhores romances de todos os tempos, portanto acredito que vá gostar da escolha.

- Adoro esse filme, é dos meus filmes favoritos de todos os tempos! - exclamou ela. Os seus olhos ainda estavam vermelhos de tanto chorar, assim como os seus lábios ainda estavam inchados, mas tenho um leve pressentimento de que ela está mais calma.

Deitamo-nos em baixo dos cobertores e ela abraçou-se a mim, nunca pensei gostar tanto desta sensação. Neste momento sinto que a posso proteger de tudo e de todos, não consigo vê-la assim e não posso deixar que nada a magoe ainda mais.

O filme estava prestes a chegar ao fim quando voltei a olhar para ela, os seus olhos pesados deslizavam de um lado para o outro enquanto via o Edward subir as escadas até à Vivian, penso que esta seja a sua cena favorita, assim como de muitas mais pessoas que têm este filme como o seu filme predileto.

"So, what happened after he climed up the tower and rescued her? She rescues him right back."

Ambos adormecemos abraçados quando o filme termina, não consigo evitar sentir-me feliz, estar com ela no mesmo espaço, na mesma cama, partilhar os mesmos lençóis, passar a noite a seu lado, tudo isto é incrível para mim, só não consigo gostar das razões para isto estar a acontecer, mas sinto-me culpado por estar a aproveitar ao máximo a situação.

A meio da noite sou acordado com um barulho bastante forte vindo dos pés da cama, levanto-me rapidamente apercebendo-me de que a Alice não está ao meu lado.

- Alice!? - chamei. Mas não obtive resposta alguma, contrariamente, parecia que alguém estava a tremer no chão.

Corri para ver o que se passava e fiquei aterrorizado com o que estava a acontecer. A minha namorada estava agora estendida no chão do meu quarto completamente inconsciente e o seu corpo tremia bruscamente. Tentei socorre-la, mas por muito que a abanasse, não era capaz de a fazer parar, não sei o que se passa com ela, não entendo o que está a acontecer, por isso, corro até ao quarto dos meus pais e chamo pela minha mãe.

No fim de alguns minutos, a situação ficou estável, a Alice acordou e não se lembra de nada como eu já previa. A minha mãe tentou acalmá-la e no fim pediu para falar com ela à parte. Não entendo porquê que não posso ouvir a conversa, eu estou tão preocupado quanto ela e não faço ideia do que acabou de acontecer com a minha namorada.

- Obrigada mais uma vez Melany! - agradeceu a Alice enquanto entrava no meu quarto.

- Como estás amor? O que aconteceu? Estás melhor? - perguntava impaciente.

- Calma Henrique, está tudo bem! Eu tive um ataque de pânico, só me lembro de me levantar para ir beber água e depois comecei a ver tudo preto e caí no chão desmaiada.

- Um ataque de pânico!? - perguntei confuso. Eu conheço um rapaz que também tem ataques de pânico e de ansiedade, mas não se compara ao que eu acabei de assistir.

- Sim, mas vamos voltar a dormir, estou cheia de frio e preciso que me aqueças novamente. - pediu-me ela deitando-se a meu lado.

Os nossos lábios uniram-se novamente e separaram-se algum tempo depois, tempo esse que para mim passou demasiado rápido, mas não me queixo, a sua companhia já me satisfaz.

- Boa noite princesa! - sussurrei no seu cabelo.

- Boa noite! - respondeu-me ela. Consigo perceber que está a sorrir.

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