Capítulo 47
ALICE
Não consigo acreditar no que estou a ver, sinto o meu mundo desmoronar-se mesmo à minha volta, o meu corpo está imóvel e eu não sei bem há quanto tempo. Tanto a minha irmã como o meu namorado, já perceberam quem é a mulher que está neste momento aos beijos com o meu pai. Há quanto tempo é que durará esta relação? Será que o David sabe de alguma coisa? Como é que será que o Afonso e o Tiago irão reagir a tudo isto? São imensas a perguntas que me passam pela cabeça numa questão de segundos, mas nenhuma resposta chega.
Apercebo-me agora que seria melhor ter ficado em casa, esta noite foi um completo desastre, mas tenho a sensação que irá piorar.
- Alice o que fazemos!? - perguntou-me a Inês. Senti a sua voz fraca, talvez a minha também esteja assim.
- Alice? - chamava-me o Henrique. Tenho a sensação de que nenhum de nós é capaz de tirar os olhos do casal de amantes.
Assim que pararam o beijo apaixonado, a Tânia olhou para a frente dando de caras com o seu sobrinho e as filhas do seu amante. O seu semblante mudou em segundos, penso que nunca vi ninguém mudar de um sorriso para uma cara de choque tão rápido. Reparei que o meu pai não estava a entender a reação dela, para o momento apaixonante que estavam a viver há momentos atrás, não faria sentido algum.
Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, enquanto o meu pai se virava para nos encarar, tenho a sensação de que ainda não consegui parar de chorar, desde que comecei a assistir, áquilo que mais parece uma cena de terror. A sua expressão mudou tão rapidamente como a dela, mas, ao invés de continuar sentado no banco do condutor, a sua reação foi sair rapidamente do carro e correr até nós. Mantive-me imóvel, estou sem forças para sequer correr e fugir de uma das pessoas em quem eu mais confiava.
- Inês, Alice, eu posso explicar tudo! - exclamou ele. Porém nem eu nem a minha irmã abrimos a boca. Olhei para ela rapidamente e vi que não deitou uma lágrima, começo a ficar assustada com a falta de alguma emoção. Ela continua a meu lado, porém não mexe uma parte do corpo que seja, parece que nem consegue piscar os olhos enquanto encara o meu pai.
- Filhas vamos para casa! Eu explico-vos tudo, mas por favor vamos para casa! - implorava ele. Ouvi a porta do carro bater e os saltos da Tânia a aproximarem-se do passeio onde continuávamos paradas.
Por incrível que pareça, ninguém olhava para nós, a música da discoteca era ouvida cá de fora e todos estavam demasiado animados para irem curtir a noite. Todos menos eu a minha irmã e o meu namorado.
A mão do Henrique enrolou-se na minha, sei que me está a tentar proteger-me, mas neste momento eu só preciso que me tirem daqui, não quero ver o meu pai, nem aquela mulher de cabelos pretos que eu tratava como uma segunda mãe. Talvez fosse mesmo isso que ela queria, ocupar o lugar da minha mãe.
O meu pai continuava a insistir, tentou pegar-nos nas mãos, mas tanto eu como a minha irmã rejeitamos o seu toque, a Tânia tentava acalmá-lo e dizia-lhe para não nos forçar a nada, isso e muitas outras coisas que o meu cérebro não conseguia processar.
De repente, uma voz masculina soa no meio da música comercial:
- Inês!? Inês o que se passa, porquê que demoraste tanto? - perguntava o Enzo aproximando-se da confusão que estava a nossa vida neste momento.
- Oh pois é, ainda não sabes da notícia! O tão estimado doutor Daniel anda enrolado com a mulher do casal amigo da família! Ah, que por acaso é a tia do Henrique, mãe do Tiago e do Afonso e mulher do David! - gritou a minha irmã. O Enzo não está a compreender nada do que está a acontecer, não o culpo, até sou capaz de invejá-lo por estar de fora de toda esta situação miserável.
- Inês vamos para casa! - continuava o meu pai.
- Larga-me! Eu não vou voltar para casa contigo! Tu nunca mais me pões a vista em cima! - exclamou ela. Seguidamente, pegou na mão do Enzo e saiu a correr, tentei chamá-la, mas não resultou, eles já estavam muito longe e a minha voz saiu demasiado fraca.
- Alice... - tentou ele novamente voltando-se para mim. A mão daquela maldita mulher continuava pousada no seu ombro.
- Henrique leva-me. - foram as únicas palavras que consegui pronunciar. Ele assentiu com a cabeça e voltamos costas ao meu pai, dirigindo-nos até ao Mercedes branco do meu namorado.