Capítulo 40

TIAGO

Assim que vi a Alice entrar pela porta da cafetaria, o meu coração parou, à minha frente, lá estava ela, vestida com um lindo vestido azul bebe, a sua cor favorita, tinha o cabelo ondulado e a pele um pouco mais bronzeada do que na última vez que a vi, a seu lado, estava o meu, incrivelmente miserável, primo e de mãos dadas iam aproximando-se da mesa onde está o doutor Daniel.

Não sou capaz de assistir a tudo isto, não consigo olhar para a Alice, depois de tudo o que aconteceu, não tenho coragem, nem estofo para encará-la e falar com ela como se fossemos amigos. Ela escolheu o Henrique, escolheu ficar com a pessoa que, tenho a certeza, de que lhe vai fazer a vida num inferno. Ele não a ama verdadeiramente, simplesmente quer ter alguém, e apesar de eu saber que ela não merece nada disto, não sou capaz de lhe alertar mais uma vez.

Saí do espaço onde a festa da Inês estava a acontecer e fui respirar um pouco até ao banco de jardim que tem à porta, peguei no telemóvel e comecei a ver algumas fotografias que tenho espalhadas pela galeria, é incrível como uma rapariga consegue mudar a nossa vida de um dia para o outro. Uma fotografia da Alice prende a minha atenção e eu não consigo deixar de passar imenso tempo a olhar para ela, lembro-me perfeitamente deste dia, foi no verão do ano passado, eu tinha acabado de vencer um concurso de surf que fizeram na praia, e para celebrar, fomos com os nossos amigos até à Pizza Hut comprar uma pizzas e voltamos para a praia. Foi dos melhores dias da minha vida, ela estava linda, tinha o cabelo ondulado, devido à água salgada, vestia o seu bikini favorito, azul com bolinhas brancas. Na fotografia estamos os dois, ela está nas minha cavalitas e ambos sorrimos genuinamente um para o outro.

Tenho saudades de tudo isso, da nossa relação, da nossa cumplicidade, sinto falta da antiga Alice, da minha Alice!

- Vocês os dois estão loucos? Querem estragar a festa à minha filha é isso? Têm problemas resolvam-nos, mas não aqui! - gritou o Doutor Daniel repentinamente fazendo-me deixar cair o telemóvel com o susto.

- Foi este menino que começou tudo, eu só estava a tentar defender a sua filha! - respondeu o Henrique irritado.

A discussão estava a acontecer entre o meu irmão e o meu primo, algo que eu já esperava, porém, tentava evitar a todo o custo, não pensei que o Henrique e a Alice viessem à festa.

- Tu e o teu amiguinho são uns crápulas, só servem para roubar as namoradas dos outros! - exclamou o Afonso empurrando-o. Eu permaneci sentado no banco, não me quero meter em mais confusões, sei perfeitamente o quanto custa levar um murro do Henrique.

- Eu não roubei a namorada a ninguém, que eu saiba a Alice já não namorava com o teu maninho quando veio para cá! E para além do mais, que amiguinho!? - perguntou o Henrique. Parecia confuso.

- Aquele gajo da cafetaria! Esse palhaço roubou-me a Inês, mas ele não se vai ficar a rir, ai não vai não!

- Que gajo da cafetaria!? Mas tu estás-te a passar ou quê!?

- Afonso já chega, acabou! - gritei eu.

- Tiago!? Eu nem me tinha apercebido de que estavas aqui! - exclamou o meu irmão. O pai da Alice e da Inês continuava connosco, mas não dizia nada, apenas se mantinha ali perplexo a ouvir tudo o que aqueles dois estavam a dizer relativamente às duas filhas.

- Mas estou, e isto já deu o que tinha a dar, vamos ter com a mãe! - respondi eu.

- A vossa mãe está cá!? - perguntou o doutor Daniel.

- Sim, nós estamos alojados no hotel Lisboa Plaza... - respondeu o Afonso.

- Muito bem, eu não sabia que ela também tinha vindo. - comentou o doutor.

- É, parece que também quis vir conhecer Lisboa... - começou o meu irmão.

- Ou se calhar não queria deixar o filhinhos virem para cá sozinhos, olha que Lisboa é uma cidade muito perigosa, tem muitos bichos papões! - dizia o Henrique troçando do Afonso.

- Cala a boca palhaço! - exclamei eu.

- Olha olha, o meu priminho querido a sair da casca outra vez...

- Vá jovens acabou, tudo lá para dentro! Henrique, vai procurar a minha filha, não quero mais discussões hoje, principalmente entre elas as duas, já sei muito bem no que isso dá! - pediu o Daniel.

Todos acatamos o seu pedido e voltamos para dentro, o Henrique foi à procura da Alice, assim como o futuro sogro lhe pediu e eu e o meu irmão sentamo-nos novamente na mesa onde estávamos.

Para mim, a festa já deu o que tinha a dar e todo o plano que tinha feito com o meu primo foi por água abaixo, eu não tenho interesse em nada do que possa estar relacionado com ele.

Passei o resto do tempo no telemóvel, mas desta vez não me sujeitei à dor de ver as fotos da Alice, abri a aplicação do YouTube e coloquei um vídeo da Marvel para passar o tempo.

- Pessoal, peço a vossa atenção! A festa está mesmo quase a terminar, por isso, queria dizer-vos que adorei partilhar o meu dia especial com todos vocês e que vos adoro do fundo do meu coração! Obrigada por tornarem este dia ainda mais especial!

- Ela é mesmo falsa! Não entendo como é que me consegui apaixonar por ela, já devia saber que ela só quer comer gajos e pronto, deita-os fora, fim, acabou! - dizia o Afonso enquanto olhava para a Inês.

- Vamos embora amanhã! - exclamei eu, também olhando para ela.

- Anh? Mas não era suposto ficar aqui até quarta? - perguntou-me o meu irmão observando-me agora a mim.

- Esquece Afonso, já não vale a pena! Eu vim para cá porque pensava que a Alice ainda gostava de mim, e tudo o que eu percebi durante estes dias, foi que não vale a pena lutar por algo que já está perdido há muito tempo.

- Tiago...

- Vamos embora amanhã!

Os convidados começaram a ir embora pouco tempo depois do fim do pequeno discurso da Inês, mas infelizmente, eu não sou capaz de ir sem lhe dizer nada. Levantei-me e aproximei-me dela.

- Olá! - iniciei.

- Olá!? - respondeu ela sem entender o porquê da minha introdução.

- Podemos falar? - perguntei baixinho.

- Sim, o que me queres dizer?

- Aqui não, podemos ir para outro sítio!? - não quero que ninguém nos interrompa, preciso mesmo de ter uma conversa séria com ela.

- Hum, claro, vamos para o jardim então.

Acenei positivamente com a cabeça e ambos saímos da cafetaria, reparei que o tal Enzo olhava para mim desconfiado, mas não liguei, não tenho nada com a Inês e nem faço tenções de ter, só quero mesmo esclarecer umas coisas.

Assim que chegamos ao jardim, sentamo-nos num banco de madeira e ficamos durante alguns segundos calados. Sabia que ela estava a olhar para mim, provavelmente à espera de que eu dissesse algo, mas eu não conseguia tirar os olhos da relva.

- Tiago? Está tudo bem? - perguntou-me.

- Sim, eu queria dizer-te que me vou embora amanhã.

- Mas já? Tu disseste que ficavas até quarta!

- Não vale a pena Inês, não tenho nenhum propósito para estar aqui!

- Mas e nós? - perguntou-me ela.

- Nós? Não há nós Inês, nunca houve nós! Eu sei de tudo aquilo que tu fizeste e se queres saber não concordo com nada! O motivo para ter estado tão perto de ti ultimamente foi porque o meu primo me obrigou a fazê-lo...

- O Henrique obrigou-te a estares comigo!? - gritou ela.

- Nós tínhamos um plano para nos vingarmos de tudo o que nos fizeste, tanto a mim, como à Alice e até mesmo a ele!

- Mas eu não...

- Inês, não vale a pena! Eu sei muito bem que foste tu nas chamadas, sei de tudo.

- Então todo o tempo que passamos juntos não passou de uma farsa!?

- Exatamente! - exclamei eu levantando-me do banco.

Todos os direitos reservados 2019
Desenvolvido por Webnode
Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora