Capítulo 28
INÊS
Saí do quarto da Alice a correr, já não aguento mais olhar para a cara de sonsa dela. Não sei para onde vou, a única certeza que tenho, é de que não posso ficar em casa e estar constantemente a cruzar-me com a minha irmã. Porquê que temos de ser gémeas, é das piores coisas de sempre, não percebo como é que há pessoas que gostavam de ter uma irmã gémea. Estás sempre a ser confundida com ela, trocam-vos os nomes imensas vezes, pensam que uma é exatamente igual à outra só porque são idênticas.
Saí do condomínio e o porteiro ficou a olhar para mim e sorriu, não retribui o sorriso, nunca falei para o homem. Provavelmente foi a Alice que falou e então ele confundiu-me, algo normal na minha vida.
Não andei muito até encontrar uma cafetaria, é bastante bonita e vintage, tal como eu gosto, parece um sítio frequentado por gente chique. Entrei e sentei-me na mesa junto à porta, a cafetaria não está muito cheia, a verdade, é que a hora do lanche também já passou há algum tempo, porém ainda estavam três mesas ocupadas.
- Olá Alice, pensei que nunca mais te ia voltar a ver! - falou-me um rapaz alto, moreno e de cabelo cumprido.
- Ahm, eu acho que me está a confundir com alguém! O meu nome é Inês!
- Inês, mas tu és exatamente igual à... Oh claro, tu deves ser a irmã gémea da Alice!
- Sim, sim sou eu... - respondi com um ar de desdém.
- O que foi? Disse algo de mal!? - perguntou ele preocupado.
- Não, não disse, é só que não me apetece falar da minha irmã!
- Tudo bem, sendo assim não falamos dela! Eu chamo-me Enzo!
- Olá Enzo eu sou a ... - iniciei eu.
- Inês! Já me disseste ah ah ah! - respondeu ele na brincadeira. - Bem, já sabes o que vais querer!?
- Ainda não, preciso do cardápio... - Ele é mesmo lindo, Lisboa é muito bem frequentada. Assim como o Henrique, ele também tem olhos azuis, porém, os do Henrique não são tão claros como os do Enzo.
- Ah claro, falta o cardápio, desculpa! - dizia ele enquanto se afastava em direção à mesa do lado para pegar no folheto ilustrado.
- Hum, acho que vou querer uma tapioca com nutella e uma limonada, pode ser?
- Claro que pode! Eu já trago!
O Enzo é um rapaz muito simpático, para além de ser lindo de morrer. Depois de me trazer o meu pedido, que não demorou muito a ser preparado, sentou-se comigo e começou a conversar. Falamos de imensas coisas, contei-lhe tudo sobre mim, bem, pelo menos as coisas mais importantes, e nem por uma vez ele mencionou o nome daquela pessoa.
- Enzo, filho, onde estás!? - gritou uma voz de dentro da cozinha.
- Acho que a tua mãe te está a chamar. - disse-lhe eu.
- A minha mãe!? - perguntou ele incrédulo. Ah! Não, não é a minha mãe, é a minha tia, ah ah ah! Eu não tenho mãe...
- Não tens mãe!? - indaguei eu enquanto colocava os meus cotovelos em cima da mesa, estou bastante curiosa com a história do Enzo.
- Bem, eu ter tenho, mas ela não nasceu para ser mãe, nem eu para ser filho dela!