Capítulo 27

ALICE

Deitei-me novamente na cama assim que eles saíram, estou exausta. Aquilo que pensei que seria um dia triste, pois iria acabar com o Henrique por causa da minha irmã, tornou-se ainda pior.

Ainda não comi nada e o sol já se está a pôr por detrás das árvores. Quem me dera conseguir voltar a ver este momento da varanda do meu quarto na casa de Odeceixe, que bonito que era. Lá não havia árvores que tapavam os raios de sol, só no mar é que o via desaparecer. O céu parecia estar coberto por um enorme algodão doce cor de rosa, era magnifico.

- Alice, o Tiago!? - gritou a minha irmã enquanto entrava no quarto de rompante.

- Fogo Inês, assustaste-me!

- Onde é que ele está!? - continuava ela.

- Está na casa do Henrique, porquê?

- Na casa do Henrique!? Mas ele acabou de o espancar! Porquê que ele foi para lá?

- Também já sabes!? - perguntei eu. Não sabia que o Tiago lhe tinha contado o que aconteceu, nem sabia que se tinham encontrado.

- Já, já sei, porquê que o Henrique lhe bateu!? Aposto que foi por tua causa!

- Já pensaste que talvez tenha sido por tua causa!? - estou a ficar bastante irritada, já não suporto estes joguinhos da minha irmã. Não faz sentido continuar a disfarçar para que as coisas se resolvam, ela tem de aprender a lição, ela tem de me ouvir e de entender que eu não sou aquela rapariguinha frágil a quem lhe morreu a mãe e que precisa de ajuda. Sou bastante forte, o meu problema é gostar demasiado das pessoas, depois acabo sempre por ser pisada por elas.

- Anh!? O que estás a insinuar!?

- Eu não estou a insinuar nada! Estou a afirmar que tu falavas todas as noites com o Tiago, que te fingias passar por mim, mais uma vez, dizias que o amavas e que querias voltar a estar com ele! E tudo isso para quê!? Para que ele viesse para cá? Para que o Henrique me visse com o meu ex namorado e pensasse que eu o tinha enganado? - O semblante da minha irmã parecia carregado de raiva. - Lamento imenso Inês, mas o teu plano falhou!

- Mas tu...

- Eu ia acabar com ele! Eu ia acabar com o Henrique por ti! Mas ainda bem que não o fiz e sabes porquê!? Porque agora entendo que tu não vales a pena. Sempre te apoiei, sempre estive do teu lado, mesmo depois da mãe morrer, eu estava lá para te proteger e apagar todas as porcarias que tu fazias. Mas tu nunca vias isso, sempre me atiraste à cara tudo o que te vinha na cabeça, principalmente no que tocava a rapazes.

- Cala-te! Cala-te de uma vez! - gritou ela bem alto. Provavelmente, o Henrique e o Tiago devem tê-la ouvido. - Sim, sim é verdade que eu me fiz passar por ti mais do que uma vez, e não me arrependo! Tu sempre tiveste tudo aquilo que eu queria, sempre foste a preferida, a mais mimada pelo pai. Lembras-te daquele dia em que eu tive um espetáculo de ballet? Ninguém apareceu para me ver e sabes porquê!? Porque supostamente, a menina Alice estava com uma intoxicação alimentar...

- Isso já foi há muito tempo Inês!

- Pois foi, é verdade, mas eu nunca mais me vou esquecer da humilhação que eu passei no fim do espetáculo, quando todos os pais vieram dar os parabéns às suas filhas, todos menos os meus. Tu sempre tentaste ser melhor do que eu em tudo, ainda bem que não gostamos das mesmas coisas, pois tenho a certeza de que caso isso acontecesse, tu irias fazer de tudo para entrar para a escola de artes performativas como eu!

- Para Inês, para! Nada do que estás a dizer é verdade! Eu não quero ser melhor do que tu em nada, eu só quero dar-me bem contigo como acontecia antes da mãe morrer...

- Eramos pequenas quando a mãe morreu, tínhamos dez anos, queres continuar a ser criança e brincar às "Winx"? É essa a relação que queres ter comigo!?

- Deixa de ser parva, sabes muito bem daquilo que eu estou a falar! Sempre fomos unidas, tudo o que uma fazia a outra fazia também, eramos verdadeiras irmãs, mas depois daquilo tu mudas-te, ficas-te diferente, só pensavas em rapazes, querias sair à noite e tudo com apenas doze anos. Só foi pena o pai não estar tão presente nas nossas vidas como devia, se ele estivesse nada disso tinha acontecido!

- Tu invejas-me não é!? Querias ser como eu! Lamento, mas tu não vais passar de uma parva que rouba os namorados das outras!

Não contive a minha mão e pela segunda vez, dei-lhe um estalo, a única diferença é que desta vez estamos no meu quarto e eu não vou voltar a fugir.

- Cabra! - chamou-me ela. - Eu odeio-te! Odeio-te com todas as forças que tenho. Só tenho pena de ser exatamente igual a ti! Não mereces nada, nem o Henrique, nem o Tiago, nem porra nenhuma! Merecias estar morta como a mãe!

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