Capítulo 26
HENRIQUE
Fiz asneira, sei que fiz asneira, não devia ter dito aquilo, sou tão burro. Tinha a oportunidade perfeita para a fazer ficar do meu lado, mas fui estúpido e deixei-a ainda mais chateada comigo.
Eu e o meu primo acatamos o pedido dela, saímos do seu quarto e fomos para minha casa. Não falamos em momento algum. Já no meu quarto, sozinho, sentei-me na secretária a olhar para o terraço da casa da Alice. Os pensamentos de toda a situação apoderam-se da minha mente e levam-me com eles, não consigo entender porquê que ela me disse que namorava com ele, talvez para me magoar, mas isso não faz sentido. Porque quereria ela magoar-me?
Já são quase cinco da tarde quando me apercebo de que ainda não comi nada, só nesta manhã já consegui espancar uma pessoa, magoar outra e sentir uma enorme vontade de matar outra. O que se passa contigo Henrique, tu nunca foste assim, nunca foste violento, nunca precisaste de bater em ninguém daquela maneira. A culpa é dela, daquela rapariga maravilhosa que me fez perceber de que não a posso perder para ninguém. Talvez tenha exagerado, mas não sinto remorsos, voltaria a fazer exatamente o mesmo.
- Henrique!? - ouvi o Tiago a chamar do lado de fora do quarto.
- O que foi? - vociferei eu. Não quero mais problemas, mas se ele se armar em parvo outra vez vai ter de levar comigo.
- Podemos conversar? - a sua voz parecia calma, porém um pouco perdida. Começo a sentir pena dele.
- Entra!
A porta abriu-se e do corredor entrou o meu primo com uma caixa na mão. Ele parecia completamente abalado, as marcas que eu lhe tinha feito estavam expostas no seu rosto, ainda não me arrependo, porém, talvez tenha exagerado.
- Tu e ela namoram mesmo? - perguntou-me ele de cabeça baixa, em frente à porta agora fechada do meu quarto.
- Sim, já te tinha dito que sim. Começamos a namorar há três dias!
- Como é que pode ser possível que ela tenha feito isto?
- Já te disse que não foi a Alice que fez nada, a culpa é toda da outra parva da irmã dela! - exclamei eu levantando-me da cadeira.
- Ouh calma Henrique, eu não estava a falar da Alice, estava a falar da Inês! Não percebo como é que ela pode fazer uma coisa destas com a própria irmã...
Olhei para ele e voltei a sentar-me na cadeira, por momentos voltei a sentir uma raiva imensa, mas foi acalmada quando ouvi que não falava da minha Alice.
- O que pensas fazer? - perguntou-me ele.
- Eu!? Nada! Não fui eu que fui enganado... Quando ela me fez algo a mim eu apareci de mãos dadas com a Alice em casa delas enquanto ela dava uma festa. Foi o melhor castigo que lhe poderia ter dado.
- Pois, mas o problema é que ela só faz mal à irmã e não a ti, mesmo sabendo que quem andou atrás da Alice foste tu, ela vai sempre sentir raiva da irmã e tentar prejudicá-la.
Nunca tinha pensado nisso, mas o Tiago tem razão. De todas as vezes que tentamos corrigir as coisas e fazer a Inês perceber que errou, ela acaba sempre por prejudicar a irmã. Não posso deixar que isso continue a acontecer, ela tem que aprender a lição de uma vez por todas, mas não posso deixar que a Alice se envolva nisto.
- Sim, tens razão primo, não podemos deixar que a Inês magoe mais a Alice! - exclamei eu.
- E como é que vamos fazer isso?
- Tiago, eu sei que tu amas a Alice, sei que já se conhecem há muito tempo, ela contou-me a vossa história, mas também sei que foi melhor terem acabado...
- Claro que foi, para ti foi ótimo até! - respondeu-me ele encolhendo os ombros.
Acalma-te Henrique, tens de fazer isto pela Alice, mas precisas da ajuda deste miúdo parvo, por isso não podes fazer nenhuma asneira.
- Cala a boca e deixa-me continuar! A Alice não pode continuar a ser prejudicada pela irmã, porém, há um pequeno problema.
- E qual é!?
- A Inês é uma rapariga muito carente, ela faz tudo isto porque se sente sozinha, já tinha reparado nisso há muito tempo, o problema foi que nunca quis saber porque só queria conquistar a Alice. A Inês precisa de alguém que goste dela, para que ela se sinta desejada...
- Espera, tu não me vais pedir o que eu penso que me vais pedir pois não!? - perguntou ele exaltado.
- Tiago, eu preciso que tu digas à Inês que estás completamente apaixonado por ela, que sempre soubeste que era ela a falar contigo ao telemóvel e não a Alice...
- Não, nem pensar, fora de questão! A Inês era como uma irmã para mim, eu nunca gostei dela dessa maneira, para além do mais, nós somos muito diferentes, nunca vai resultar!
- Deixas de ser estúpido e ouves-me!? Ninguém te disse que tinhas de gostar dela, é só uma forma de a acalmar e depois, quando voltares para o Algarve acabas tudo e pronto, fim da história.
- Tu és louco, eu não vou fazer nada disso, eu gosto da Alice, sempre gostei e não vou mudar agora, não vou dizer que gosto da Inês e pronto! Porquê que não fazes tu isso!?
- Porque ao contrário de ti, eu namoro com a Alice e não vou largar a minha namorada pela porcaria de uma vingança!
Neste momento, eu e o meu primo estávamos novamente colados, os nossos olhos encaravam-se mutuamente, porém eu tinha de olhar bastante para baixo. Este rapaz tem um potencial enorme para me tirar fora do sério, eu não o suporto.
- Vais fazer isto ou não? Caso não o faças a Alice vai continuar a ser alvo de chacota da irmã. - disse eu.
- Porquê que ela não resolve as coisas à maneira dela!?
- Porque a Alice não quer estar mal com a Inês, conclusão, não vai fazer porra nenhuma!
- E tu ages como se fosses o Professor X, mas aqui o Wolverine é que tem de trabalhar!
- Calma ai crominho, primeiro eu não percebi nada do que disseste, segundo ou fazemos isto da minha maneira, ou então não fazemos e a Alice vai ficar ainda pior. Já agora, caso ainda tenhas dúvidas, a culpa vai ser toda tua se isso acontecer.
- Okay, okay eu faço isso, mas é a última coisa que me pedes! Só espero que estas duas semanas passem rápido!
- Vais ficar aqui para o aniversário delas!? - perguntei eu intrigado. Elas fazem anos daqui a uma semana, e eu ainda não comprei nada para a Alice! Tenho de tratar disso!
- Óbvio que vou, não podia faltar ao aniversário da Alice! - olhei para ele com cara de poucos amigos. - Nem da Inês claro!